ANA claudia fattori

Personal & Work Blog

28 de Agosto de 2016

Eu havia começado a aprender espanhol sozinha há um ano antes de conhece-lo. Nosso primeiro encontro foi um almoço que quase não deu certo, eu desenrolei um portunhol horrível e então voltei para o Brasil, estávamos como “amigos que se olham diferente”, sem saber se voltaria a vê-lo. Eu tinha férias planejadas para o próximo mês, ele tinha férias pendentes de quase três anos e resolveu tirar alguns dias na mesma época e vir me visitar no Brasil. Foram as férias mais mágicas da minha vida, mesmo eu não conhecendo nenhum lugar novo durante esse tempo, queria que ele conhecesse um pouco da minha rotina e dos lugares que eu gosto.
Levamos então 6 meses namorando a distância e planejando nossas vidas, nos encontrando a cada um ou dois meses em minhas viagens de trabalho de projetos longos, usando fins de semana e feriados prolongados para esses encontros em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Buenos Aires. Decidimos então que meu espanhol estava bom suficiente para viver em Bogotá e que seria mais fácil eu ir do que ele vir para o Brasil, buscamos apartamentos online, ele me enviava vídeos do lugar para avaliar, fazíamos planilhas para comparar os prós e contras, buscávamos possibilidades de trabalho online para mim e fiz entrevistas por Skype (passei em duas) pensando que meus chefes jamais aceitariam minha transferência, e decidi finalmente comunicá-los. Para minha surpresa, eles aceitaram e foi mais fácil do que eu imaginava. A ideia de ter pelo menos alguma área de sua vida que não vai mudar, é realmente confortante.
E eu vim. E aqui estamos, felizes, juntos e nos sentindo como uma família, agora com nosso cachorro adotado, o Cooper. Já tivemos uma mudança de bairro e isto completa a contagem de nove casas diferentes que já vivi.
Às vezes choramos quando lembramos dos nossos encontros por facetime, nossas jantas combinadas por tela de computador (comprávamos a mesma comida e comíamos juntos contando como foi nosso dia), nossos planos para um futuro juntos, geralmente acompanhado de lágrimas que não podiam ser secadas, alegria e tristeza, tão próximos e tão distantes, mas sempre muito esperançosos. As chegadas no aeroporto eram superdivertidas, gritos e choros, como se não tivesse ninguém ao nosso redor. E as despedidas no aeroporto eram demasiadamente dolorosas. Aprendemos a valorizar nosso amor antes mesmo de começar a viver juntos. Agora, amamos estar juntos, mesmo que cada um esteja em seu computador trabalhando, estamos sempre acompanhando um ao outro e nos apoiando. Acho que encontrei minha família, encontrei um louco que apoia meus planos loucos de vida...sim, existem mais planos. No futuro eu conto!


Sinto que existe uma mãozinha de Deus em tudo isso. Quando paro pra pensar em tudo que aconteceu, todas as coincidências e sentimentos mútuos que tivemos em toda nossa história, acredito que o destino realmente queria ver a gente juntos. Por isso sempre que enfrentamos uma fase difícil ou temos algum tipo de desentendimento, resolvemos dar uma forcinha pra continuar escrevendo essa história tão bonita que Deus nos deu de presente e aprendemos que depois de todo os sacrifícios, dificuldades e diferenças que passamos, o amor sempre vence, independente da cultura de cada um, da criação ou da razão.

Para finalizar, uma frase de um autor desconhecido que vi, gostei muito e compartilho aqui, acho que explica bem o significado da expressão “virar a página”:
“Existem momentos na vida que é necessário excluir pessoas, apagar lembranças, jogar fora o que machuca, abandonar o que nos faz mal, se libertar de coisas que nos prendem, olhar para frente e enxergar a imensidão de caminhos ao nosso redor, ao invés de insistir sempre no mesmo erro e na mesma dor. Aprenda a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem também gosta de você! Não desista jamais e saiba valorizar quem te ama, esses sim merecem o seu respeito. Quanto ao resto, bom...ninguém nunca precisou de restos para ser feliz. Cuide apenas daquilo que for verdadeiro... o que não for, deixe passar. ”

Mudança. Essa palavra me deixa ao mesmo tempo feliz, porque traz novas rotinas e perspectivas, e também triste, porque dá muito trabalho e é cansativo!
“Já morei em tanta casa que nem me lembro mais” (Legião Urbana).
Nasci em São BernaRdo (rs) e moramos em um lugar que tenho vaga lembrança, era um apartamento no primeiro andar e lembro que sempre tinha enchente, lembro dos meus pais muito tristes. Depois fomos viver em Santo André, também em um apartamento. Eu adorava morar lá, foi neste lugar onde fiz minhas primeiras amizades fora da escola, aprendi a andar de patins e bicicleta, meu irmão nasceu e o lugar ficou pequeno, necessitávamos de mais um quarto. Na época a situação financeira devia ser boa, porque nos mudamos para um super apartamento de 3 salas, bem localizado (atravessávamos a rua e estávamos na escola), os amigos e amigas novos não nos receberam tão bem, mas éramos adolescentes e nessa fase é complicado mesmo. Adorei participar da reforma deste lugar e poder escolher qual seria meu quarto e ter meu próprio banheiro (minúsculo, mas era só meu). Vivemos muito tempo aí, 6 anos se não me engano e tenho muitas lembranças, passei uma das melhores e piores fases da minha vida, esse apartamento era incrível, o Spike também veio para nossas vidas nessa época. Deus nos tirou outro membro da família e logo a casa ficou grande, dispendiosa e com tristes lembranças. Assim, nos mudamos novamente para o quarto e último apartamento, onde minha mãe vive até hoje. Gostava bastante de morar aí, é perto da casa da minha avó, ao lado de um parque ótimo para correr e onde passei minha infância. Mas como vocês devem imaginar, me mudei novamente, dessa vez sozinha. Fui morar num lugar que era tipo uma república, mas com meu próprio quarto, levava 15 minutos para ir ao trabalho ao invés de duas horas, não conhecia ninguém lá, odiava a velhinha que era a dona e ela me odiava também, sem motivo algum, e a localização era horrível, só era bom mesmo para o trabalho, onde fiz meus melhores amigos da vida toda e ia quase todos os dias correr na USP (que é do tamanho de um bairro), assim eu assim eu só tinha mesmo que dormir e tomar banho (no banheiro comunitário) daquela casa feia, e por isso todo fim de semana voltava pra Santo André na casa da minha mãe. Aguentei seis meses, depois me mudei para um apartamento de 30m2...uma caverna. No começo parecia perfeito, próximo do metrô (eu nunca tive carro), fácil acesso ao meu novo trabalho, um bairro tranquilo, perto de restaurantes e mercados, mas aquele “apertamento” era horrível, tinha mofo, barata, paredes de drywall que deixavam escutar até mesmo a TV do vizinho. Apesar de não gostar, as dificuldades eram pequenas perto das vantagens e aguentei ficar aí por 2 anos e meio. Tinha planejado me mudar para o apartamento que comprei com minhas economias desses 10 anos de trabalho. Ele é pequeno, mas maravilhoso e no mesmo bairro que eu já morava, com fácil acesso ao metrô e etc. Mas a vida muda muito rápido e nem cheguei a dormir uma noite lá. Fiquei dois meses morando novamente com minha mãe e fui pra Bogotá. Agora o apartamento dos sonhos virou investimento, e me sinto feliz e realizada de igual forma.


Passagem só de ida

Muitos duvidavam, outros pensavam que eu ficaria um tempo e voltaria, outros achavam que eu ia desistir da ideia antes mesmo de ir. E até hoje tem gente que vem falar comigo só pra saber o motivo, tem gente que pergunta “mas porque Bogotá?” e outros nem perguntam, só exclamam “Bogotáaaa...???”.
Sim, Bogotá. Eu não condeno a ninguém porque eu também tinha essa mesma visão daqui. A primeira vez que vim para um projeto, um colega de trabalho americano me disse que eu não podia andar pela rua e falar ao celular ao mesmo tempo porque eu seria roubada. Agora posso dizer: mentira! A verdade é que eu me sinto muito segura aqui, mais segura inclusive do que os últimos lugares que vivi em São Paulo. Vivo em um bom bairro de Bogotá e é claro que eu não vou andar distraída pelo centro da cidade, por exemplo. Tenho a mesma cautela que tinha antes, em São Paulo. Na verdade, as duas cidades são muito parecidas e acredito que por isso foi tão fácil a minha adaptação. O transito é pesado, muitos carros, muita moto, muita gente apressada e ocupada, transporte público lotado, o centro é perigoso à noite, você encontra todo tipo de restaurante, bar e balada, e muita gente do país todo vem morar aqui.
Mais detalhes sobre a cidade, o passado que muitos conhecem, as qualidades e defeitos que percebi desde minha chegada em setembro de 2015, estão descritas aqui.
Respondendo à pergunta de muitos: Sim, o principal motivo de eu vir para Bogotá foi o meu namorado. E gostaria muito que antes de começarem os pré-julgamentos, que levem em consideração o link abaixo, enviado pelo meu melhor amigo, é uma leitura rápida e que explica perfeitamente o que penso sobre isso, inclusive o começo é inclusive muito parecido (rs). A diferença é que eu não larguei o emprego e planejei tudo muito bem, quem me conhece sabe que faço “loucuras bem pensadas”.

Mudança de País

Faça suas malas, vá viver um amor

RUTH MANUS
23 Setembro 2015